Um escândalo de partilha de respostas a testes está a abalar a formação de técnicos de emergência pré-hospitalar do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). De acordo com informações obtidas pela agência Lusa, formandos têm utilizado um grupo no WhatsApp para trocar respostas de avaliações, o que levou a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) a solicitar uma intervenção urgente das autoridades competentes.
Os documentos a que a Lusa teve acesso revelam que as respostas a testes e afirmações estão a ser disseminadas entre os formandos, que estão organizados em turmas que frequentam diferentes módulos de formação. Um dos formandos, que preferiu manter o anonimato, confirmou que um grupo com mais de 80 participantes está ativo desde o início do curso, partilhando resultados e respostas. “Estamos divididos por turmas, que frequentam módulos diferentes, e os resultados são partilhados. As respostas passam de uns para os outros”, afirmou.
Outro formando acrescentou que os testes realizados online, que ocorrem no final de cada módulo, são “praticamente iguais” aos que são feitos presencialmente, facilitando a troca de informações. Um dos documentos analisados pela Lusa, referente ao terceiro módulo, contém mais de 160 afirmações que os formandos devem classificar como verdadeiras ou falsas, todas com as respostas corretas indicadas. Além disso, um outro documento inclui perguntas e respostas de todos os módulos do curso Técnico de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH).
O curso, que começou no início do ano com 200 formandos, está a ser alvo de críticas por parte de vários alunos, que apresentaram queixas tanto ao Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH) como à ANTEM. As denúncias revelam que alguns formandos foram impedidos de aceder ao regulamento do curso, uma situação que o sindicato considera “suficiente para impugnar o curso”. O presidente do STEPH, Rui Lázaro, afirmou que o departamento jurídico da entidade está a avaliar as queixas e que “tudo o que for preciso fazer para defender os interesses dos associados será feito”.
Em relação à partilha de respostas, o STEPH declarou não ter conhecimento do caso, mas considerou-o “muito grave”, apontando para uma possível incapacidade do INEM em gerir a formação dos TEPH. A ANTEM, também contactada pela Lusa, expressou a sua preocupação, afirmando que, se as alegações se confirmarem, a situação é grave e poderá levar à anulação do curso.
O INEM, por sua vez, revelou que recebeu cinco reclamações sobre o curso e que a taxa de reprovação está abaixo da média, contradizendo as informações do sindicato. Em resposta às denúncias, o instituto afirmou que a formação está a ser realizada de acordo com critérios uniformes de avaliação e que todas as grelhas de avaliação estão disponíveis para os formandos, exceto uma que é abordada ao longo do curso.
O presidente do STEPH destacou que as discrepâncias nos métodos avaliativos entre diferentes delegações têm gerado confusão e insatisfação entre os formandos. “Por exemplo, em Lisboa, na banca prática, é preciso duas avaliações positivas superiores a 15 valores para passar, enquanto no Porto é apenas uma. Um colega de Lisboa que teve 14,75 valores na primeira, 17 na segunda e 14 na terceira reprovou, mas se estivesse no Porto tinha passado”, explicou.
Com o curso a meio, o STEPH já contabiliza mais de 50 reprovações, o que levanta sérias questões sobre a eficácia e a justiça do processo formativo. O INEM, por sua vez, defende que a taxa de reprovação atual é de 8,5%, com 17 reprovações registadas entre os 200 formandos, além de seis desistências.
A situação levanta preocupações não apenas sobre a integridade do curso, mas também sobre a formação de profissionais que desempenham um papel crucial na emergência médica em Portugal. O INEM anunciou que, a partir deste ano, a formação dos técnicos será realizada em colaboração com as escolas médicas, uma mudança que, segundo o presidente do Conselho de Escolas Médicas, Carlos Robalo Cordeiro, já está a ser implementada nos módulos práticos.
Resumo
Um escândalo de partilha de respostas a testes está a afetar a formação de técnicos de emergência pré-hospitalar do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). Formandos têm utilizado um grupo no WhatsApp para trocar respostas de avaliações, levando a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) a solicitar uma intervenção das autoridades. Documentos revelam que as respostas a testes estão a ser disseminadas entre formandos de diferentes turmas. A situação gerou queixas junto do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), que considera a partilha de respostas como um problema grave que pode comprometer a validade do curso. O INEM, por sua vez, defende que a formação está a ser realizada de acordo com critérios uniformes e que a taxa de reprovação é baixa. No entanto, discrepâncias nos métodos avaliativos entre diferentes delegações têm gerado insatisfação. A situação levanta preocupações sobre a integridade do curso e a formação de profissionais essenciais na emergência médica em Portugal. O INEM anunciou que a formação será realizada em colaboração com escolas médicas, uma mudança já em implementação.