Um ex-soldado da Força Aérea Portuguesa, Alexander Pereira, revelou em tribunal que simulou o furto de um cartão bancário para conseguir ser expulso da instituição, onde alegadamente foi alvo de praxes violentas. O relato foi feito durante uma audiência no Tribunal São João Novo, no Porto, onde Pereira descreveu a sua experiência traumática na Base Aérea N.º5, em Monte Real, Leiria, entre 2018 e 2019.
Durante o seu depoimento, Alexander explicou que, após meses de humilhações e abusos, decidiu simular o furto do cartão de um colega. A sua intenção era ser apanhado pelas câmaras de segurança ao levantar dinheiro numa caixa multibanco, o que, segundo ele, resultou na sua expulsão um mês depois. “Graças a Deus, fui expulso”, afirmou, sublinhando que não estava disposto a pagar uma indemnização para deixar a Força Aérea, uma vez que a cessação do contrato por sua iniciativa implicaria custos.
O ex-soldado, atualmente com 27 anos, descreveu um ambiente de constante violência psicológica e física, onde era submetido a praxes diárias. “Nunca contei nada a ninguém porque acreditava que a praxe ia acabar, mas não acabou. De serviço ou de folga, obrigavam-me sempre a fazer coisas”, lamentou. Entre as humilhações que sofreu, Pereira relatou ter sido forçado a comer ração de cão, beber água de gamelas, limpar a sala de convívio, e até apanhar dejetos de animais com preservativos. Em uma das situações mais extremas, foi colocado numa gaiola de transporte de cães enquanto os seus colegas andavam com ele na viatura de serviço.
O ex-soldado também revelou ter estado acordado por mais de 72 horas e ter sido alvo de ameaças, incluindo a apontar de uma arma à sua cabeça. Os abusos ocorreram durante um período em que, segundo a acusação, 10 ex-militares da Força Aérea, com idades entre 28 e 35 anos, implementaram um “processo de integração/ensinamento” que visava corrigir o que consideravam um desempenho abaixo do padrão dos dois antigos soldados.
O caso, que está a ser julgado, levanta questões sérias sobre a cultura de praxes nas forças armadas e a necessidade de uma revisão das práticas de formação e integração dos novos recrutas. A Força Aérea Portuguesa enfrenta agora um escrutínio intenso sobre a forma como lida com alegações de abuso e a proteção dos seus membros.
Resumo
Um ex-soldado da Força Aérea Portuguesa, Alexander Pereira, testemunhou no Tribunal São João Novo, no Porto, que simulou o furto de um cartão bancário para ser expulso da instituição, onde alegadamente sofreu praxes violentas. Durante o seu depoimento, Pereira descreveu um ambiente de humilhações e abusos na Base Aérea N.º5, em Monte Real, entre 2018 e 2019. Ele relatou ter sido forçado a realizar atos degradantes, como comer ração de cão e ser colocado numa gaiola de transporte de cães. Após meses de violência psicológica e física, decidiu simular o furto para ser apanhado pelas câmaras de segurança, resultando na sua expulsão um mês depois. O caso, que envolve outros ex-militares, levanta preocupações sobre a cultura de praxes nas forças armadas e a necessidade de reformar as práticas de formação e integração dos novos recrutas, colocando a Força Aérea Portuguesa sob intenso escrutínio sobre a gestão de alegações de abuso e proteção dos seus membros.