Indignação na FEUP após partilha não consensual de conteúdos íntimos

Estudantes protestam contra a cultura de impunidade e exigem ações efetivas.

há 1 dia
Indignação na FEUP após partilha não consensual de conteúdos íntimos

© Global Imagens

Resumo

A recente partilha não consensual de fotografias e vídeos de alunas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) num grupo de WhatsApp gerou uma forte indignação na comunidade académica. O escândalo, denunciado pela ativista Inês Marinho, revelou comportamentos que objetificam as mulheres e violam a sua privacidade, levando a uma manifestação de apoio às vítimas. Em resposta, a direção da Associação de Estudantes da FEUP demitiu o presidente e o tesoureiro, pedindo desculpas públicas e comprometendo-se a colaborar com as autoridades. A presidente do Coletivo Feminista da Faculdade de Direito, Beatriz Morgado, e Diana Pinto, da Plataforma Portuguesa para o Direito das Mulheres, destacaram a necessidade de uma resposta adequada e de um plano de ação que envolva a reitoria e coletivos feministas. A situação é vista como um ponto de viragem na luta contra o assédio e a discriminação nas instituições de ensino superior.

A recente revelação de que fotografias e vídeos de alunas da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) foram partilhados sem consentimento num grupo de WhatsApp gerou uma onda de indignação e protesto na comunidade académica. Dezenas de estudantes reuniram-se em frente à sede da Associação de Estudantes da FEUP, onde se realizava uma Assembleia Geral Extraordinária, para expressar solidariedade com as vítimas e exigir ações concretas contra a cultura de impunidade.

A situação, que veio à tona após denúncias feitas pela ativista Inês Marinho, expôs a gravidade de comportamentos que objetificam as mulheres e violam a sua privacidade. Marinho afirmou que várias alunas foram fotografadas debaixo das mesas e por debaixo das saias, revelando a existência de um grupo de WhatsApp composto por membros atuais e ex-membros da associação, onde tais conteúdos eram partilhados. A indignação foi palpável entre os manifestantes, que empunhavam cartazes com mensagens como "Uma saia não é um convite" e "As minhas propinas não pagam o nosso assédio".

Em resposta à crise, a direção da Associação de Estudantes da FEUP demitiu o presidente e o tesoureiro, emitindo um pedido de desculpas público às alunas afetadas. No comunicado, a associação lamentou profundamente a quebra de confiança e a exposição da privacidade das estudantes, reiterando que os atos perpetrados não refletem os valores que defendem. A direção assegurou que está a colaborar com as autoridades e a prestar apoio às vítimas, enquanto se compromete a implementar medidas que evitem a repetição de tais incidentes.

Beatriz Morgado, presidente do Coletivo Feminista da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, destacou a importância de não deixar passar a situação sem uma resposta adequada. "Estamos em solidariedade com as colegas que sentem medo e não estão seguras no seu ambiente académico", afirmou, exigindo um procedimento criminal justo e a demissão dos responsáveis. A concentração também exigiu a elaboração de um plano de ação que envolva a reitoria da universidade e os diferentes coletivos feministas, visando uma abordagem mais firme e eficaz contra o assédio.

Diana Pinto, membro da Plataforma Portuguesa para o Direito das Mulheres, sublinhou a necessidade de combater a desvalorização social de casos como este, enfatizando que a partilha não consentida de conteúdos íntimos é uma forma de violência contra as mulheres e um atentado aos direitos humanos. "A luta permanece 51 anos após o 25 de Abril", concluiu, referindo-se à necessidade de uma mudança cultural que garanta a segurança e o respeito no ambiente académico.

Enquanto a Assembleia Geral Extraordinária prosseguia, a comunidade académica permanecia atenta ao desenrolar dos acontecimentos, com a esperança de que esta crise sirva como um ponto de viragem na luta contra o assédio e a discriminação nas instituições de ensino superior.