Alemanha assinala 80 anos da libertação de Buchenwald

Cerimónia em Weimar alerta para a radicalização política atual.

há 4 dias
Alemanha assinala 80 anos da libertação de Buchenwald

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Resumo

No 80.º aniversário da libertação do campo de concentração de Buchenwald, o ex-presidente alemão Christian Wulff alertou para a crescente radicalização política e o avanço da extrema-direita. Durante a cerimónia em Weimar, Wulff expressou preocupação com a brutalização e radicalização atuais, refletindo sobre como o regime nazi ascendeu ao poder. Ele enfatizou a importância de um compromisso ativo com a democracia e a responsabilidade coletiva, criticando o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) por banalizar ideologias prejudiciais. O governador da Turíngia, Mario Voigt, descreveu Buchenwald como um local de desumanização sistemática. A cerimónia também foi marcada por controvérsias, incluindo a retirada do convite ao filósofo Omri Boehm, devido à pressão das autoridades israelitas. O sobrevivente do Holocausto, Naftali Fürst, lembrou a responsabilidade histórica das novas gerações em manter viva a memória das vítimas e a vigilância contra a repetição de atrocidades.

A Alemanha commemorou no último domingo o 80.º aniversário da libertação do campo de concentração nazi de Buchenwald, um evento que serviu de plataforma para alertas sobre a crescente radicalização política e o avanço da extrema-direita no cenário global. O ex-presidente alemão Christian Wulff, que ocupou o cargo entre 2010 e 2012, foi uma das figuras proeminentes a discursar na cerimónia realizada em Weimar, cidade próxima ao campo, onde se reuniram sobreviventes do Holocausto e dignitários.

Durante o seu discurso, Wulff expressou a sua preocupação com a atual situação política, afirmando que a brutalização e a radicalização que se observam hoje em dia o fazem refletir sobre como o regime nazi conseguiu ascender ao poder. "Devido à brutalização, à radicalização e à mudança mundial para a direita, posso agora - e isso deixa-me desconfortável - imaginar mais claramente como é que isto pode ter acontecido naquela época", disse Wulff, sublinhando a importância de um compromisso ativo com a democracia e a preservação da humanidade. O ex-presidente fez um apelo à responsabilidade coletiva, afirmando que "o mal nunca mais deve prevalecer".

Wulff não hesitou em criticar o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), alertando que aqueles que "banalizam" a sua ideologia estão a ignorar o impacto que esta pode ter sobre a sociedade. O governador do estado da Turíngia, Mario Voigt, também se fez ouvir, descrevendo Buchenwald como um "local de desumanização sistemática" e enfatizando que as atrocidades cometidas ali foram projetadas para destruir o espírito humano e a dignidade.

A cerimónia foi marcada por um episódio controverso, uma vez que as autoridades israelitas se opuseram à participação do filósofo Omri Boehm, neto de um sobrevivente do Holocausto e crítico do governo israelita. O convite foi retirado pelos organizadores em resposta a esta pressão.

Buchenwald, fundado em 1937, foi um dos campos de concentração mais infames da Alemanha nazi, onde mais de 56.000 dos cerca de 280.000 prisioneiros foram assassinados ou morreram devido a condições desumanas antes da libertação pelas tropas do Exército dos EUA, em 11 de abril de 1945. A cerimónia de homenagem incluiu a deposição de coroas de flores, um gesto simbólico que visa manter viva a memória das vítimas e a vigilância contra a repetição de tais horrores.

Naftali Fürst, um sobrevivente do Holocausto com 92 anos, também discursou, lembrando os presentes da responsabilidade histórica que recai sobre as novas gerações. "Neste momento, já somos muito poucos. Em breve, passaremos definitivamente o testemunho da memória para vós. Ao fazê-lo, estamos a confiar-vos uma responsabilidade histórica", afirmou Fürst, instando todos a permanecerem vigilantes e a recordar as lições do passado.