O Mercado do Bolhão, um dos ícones da cidade do Porto, foi o cenário escolhido para a realização do Conselho de Ministros desta quarta-feira, uma decisão que gerou reações polarizadas entre os partidos políticos. O Bloco de Esquerda (BE) criticou a ação, considerando-a uma "escandalosa propaganda política" e uma "provocação descarada" do Partido Social Democrata (PSD). Em comunicado, a concelhia do BE expressou a sua indignação, afirmando que o mercado é "do povo e não do marketing político do PSD e da sua Aliança Democrática (AD)", e lamentou que um espaço tão emblemático tenha sido utilizado para fins eleitorais.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, e o seu governo, que se encontram em funções há um ano, realizaram a reunião no Bolhão como parte de uma estratégia de descentralização das suas atividades. Durante a visita, Montenegro interagiu com os comerciantes e clientes, o que foi interpretado pela oposição como uma tentativa de camuflar uma ação de campanha eleitoral. O líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, desvalorizou as críticas, afirmando que não vê motivo para preocupação e que a presença de militantes do partido no local era uma prática normal.
As tensões aumentaram ainda mais com o anúncio da candidatura do ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, à Câmara Municipal do Porto, que coincidiu com a realização do Conselho de Ministros. O BE e o Partido Socialista (PS) acusaram o governo de confundir o Estado com o partido, comparando a situação à conduta do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. O PS, através do seu líder distrital, Nuno Araújo, condenou a utilização de recursos públicos para fins partidários, considerando a ação uma "encenação política".
António Mendonça Mendes, do PS, também criticou o governo por aumentar a carga fiscal e por enganar os cidadãos com promessas não cumpridas. Ele destacou que muitos contribuintes poderão enfrentar uma diminuição nos reembolsos do IRS, uma situação que, segundo ele, resulta de um "truque de ilusionismo fiscal" por parte do governo.
Montenegro, por sua vez, defendeu a legitimidade da escolha do Bolhão como local para o Conselho de Ministros, afirmando que não violou os deveres de neutralidade e isenção. Ele sublinhou que a decisão de descentralizar as reuniões do governo visa aproximar a administração pública da população e que a avaliação do seu desempenho deve ser feita pelos cidadãos nas próximas eleições.
A controvérsia em torno do Conselho de Ministros no Mercado do Bolhão reflete as tensões políticas atuais em Portugal, à medida que o país se prepara para eleições legislativas antecipadas marcadas para 18 de maio. A utilização de um espaço tão simbólico para a política local e nacional levanta questões sobre a ética e a responsabilidade dos governantes, enquanto os partidos se preparam para a batalha eleitoral que se avizinha.
Resumo
O Mercado do Bolhão, emblemático no Porto, foi o local escolhido para o Conselho de Ministros, gerando reações polarizadas entre partidos políticos. O Bloco de Esquerda (BE) criticou a escolha, considerando-a uma "escandalosa propaganda política" do Partido Social Democrata (PSD), que, segundo o BE, usou o espaço para fins eleitorais. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, e o governo, em funções há um ano, justificaram a descentralização das reuniões como uma forma de aproximar a administração pública da população. No entanto, a oposição, incluindo o BE e o Partido Socialista (PS), acusou o governo de confundir o Estado com o partido, especialmente após o anúncio da candidatura do ministro Pedro Duarte à Câmara Municipal do Porto. Montenegro defendeu a legitimidade da escolha do local, afirmando que não houve violação de neutralidade. A controvérsia destaca as tensões políticas em Portugal, com as eleições legislativas antecipadas marcadas para 18 de maio, levantando questões sobre a ética na utilização de espaços públicos para fins partidários.